Fundão Terra de Acolhimento

“Nesta casa de música todos são bem-vindos”


São estrangeiros e tocam (ou aprendem) em bandas filarmónicas da região. A paixão que nutrem pela música ajudou na integração, além de ser motivo de convívio e de novas amizades

É brasileira, estuda em Leiria, vive no Dominguizo (Covilhã) e faz parte de uma banda filarmónica em Manteigas. O que parece ser um tremendo esforço, é algo fácil e totalmente ultrapassado por causa da paixão pela música. Neiva Alfama, de 49 anos, está em Portugal desde 2023 e na Banda Sinfónica Manteiguense Música Nova desde janeiro de 2024, onde é terceira voz em trompa sinfónica. O gosto pela música começou na sua terra natal, no Brasil, onde começou com flauta infantil. “A paixão mais a sério iniciou quando fiz 20 anos, na Banda Municipal Carlos Gomes, em Ijuí, no Rio Grande do Sul, uma banda muito antiga, com 120 anos, na altura composta por 32 homens e uma única mulher, eu”, relata Neiva Alfama, que veio para fazer o mestrado em Educação na área de tecnologias, depois de 18 anos como funcionária pública no Brasil. Ela e o marido decidiram ficar em Portugal, inicialmente em Manteigas e depois no Dominguizo, onde compraram casa. Como o bichinho da música veio com ela do outro lado do Atlântico, bateu à porta da filarmónica Música Nova, onde é aluna do professor Luís Amaral e tem como maestro Luís Serra. “Encaixei-me perfeitamente. São todos muito acolhedores, percebo que se preocupam comigo e o convívio é excelente. Foi ótimo para conhecer pessoas. Sempre senti de todos um grande apoio. A convivência é ótima e ainda é uma forma de poder viajar. Atuamos sobretudo em eventos religiosos, mas já tive outros momentos musicais muito marcantes”, conta Neiva, que garante que foi a todos os ensaios e a todas as apresentações durante o ano de 2024. “Além do aspeto social e humano, a banda também forma musicalmente. Há músicos dos 9 aos 64 anos. De nacionalidade brasileira estou eu e o Samuel, de 14 anos, em percussão”, acrescenta.

Estes não são casos únicos na região, tal como o JF noticiou numa das anteriores reportagens, sobre estrangeiros a aprender Português. Um casal inglês, que reside na aldeia de Partida, na freguesia de São Vicente da Beira (Castelo Branco), contou que faz parte da Sociedade Filarmónica Vicentina. Jeremy Rotherham toca tuba e a mulher saxofone: “A experiência é boa, faz-nos sentir em família. Fomos bem aceites, assim como na comunidade. Tentamos conviver ao máximo e sentimo-nos integrados.”

Há outras bandas filarmónicas na região que têm estrangeiros nas suas fileiras, casos da Sociedade Filarmónica Silvarense (Fundão) ou da Filarmónica Idanhense (Idanha-a-Nova). Mas o caso de maior dimensão será o da Associação Recreativa Musical Covilhanense (mais conhecida como Banda da Covilhã).

Tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos um projeto social de integração. Não só acolhe estudantes da Universidade da Beira Interior (UBI) que já tocam instrumentos de sopro ou percussão, como também recebe filhos de imigrantes que procuram aprender.

“A integração é feita de forma natural e inclusiva, garantindo que nenhuma criança fica impedida de ser instruída na música ou de se sentir parte integrante da comunidade. A Banda disponibiliza bolsas de estudo que procuram colmatar as dificuldades financeiras de algumas famílias”, explica a Banda da Covilhã, que tem também a decorrer a 5.ª edição do projeto “Padrinhos da Música”, no qual mecenas, empresas e particulares financiam a formação musical de uma destas crianças durante um ano letivo (que vai de setembro a junho).

Como resultado deste trabalho, a Banda da Covilhã e a sua Academia contam hoje com diversos jovens da UBI entre os seus elementos e nos aprendizes (alunos), com especial destaque para estudantes oriundos de países como Angola e Brasil.

No total, o projeto já acolheu 87 jovens. Neste momento conta com 12 alunos de nacionalidade angolana e 12 alunos de nacionalidade brasileira.

Entre esses está Edmira Bernardo, de 11 anos e natural de Angola: “Tenho boa amizade com todos e acho que me ajudou muito.” Sobre o instrumento em que se está a especializar, a trompa, diz somente que se apaixonou e que não acha difícil. “No início experimentei outros instrumentos, mas optei por este. É uma questão de aprender. Eu não sabia nada e agora acho muito fácil”, garante a jovem, vinda de Angola com 7 anos de idade e na banda desde 2021.

A mãe, Mirélis Péres, confirma que esta decisão, feita pela própria Edmira, a ajudou bastante: “Facilitou muito à sua integração aqui na Covilhã. É uma boa experiência para nós e para ela e estamos muito felizes com esta sua escolha. Tem uma relação muito forte com o grupo.”

Quando a família assiste aos concertos, a mãe Mirélis admite que são sempre momentos muito emocionantes: “Choramos sempre, porque sabemos de todo o seu trabalho, pela dedicação e pelo esforço que ela demonstra. Estamos muito orgulhosos.”



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